Discursos e Intervenções

Discurso pronunciado pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, no encerramento do X Congresso Médico e Odontológico Nacional, em 24 de fevereiro de 1963

Data: 

24/02/1963

 Senhores membros do Corpo Diplomático;
 Distintos médicos e odontologistas que nos visitam;
 Médicos e odontologistas cubanos

 É unânime a opinião, tanto daqueles que vieram do exterior como dos cubanos que participaram dele, de que o Congresso tem sido um grande evento.

 Aqueles que já participaram de muitos outros congressos médicos não pouparam elogios à forma em que foi organizado e em que decorreu este congresso médico e odontológico nacional. Não nos devemos esquecer dos odontologistas ou dentistas (APLAUSOS). Para nosso país isso constitui um motivo de profunda satisfação.

 Aqui os companheiros e o companheiro ministro da Saúde Pública já expuseram alguns dados, indicaram, por exemplo, o número de médicos que participou, o número de odontologistas, o número total de pessoas que se inscreveram e que, realmente, indicam números recordes. E o importante não é a opinião do número de pessoas que participou, mas sim do espírito que predominou neste congresso, assim como a qualidade do trabalho que se levou a cabo.

 Na história da nossa medicina, na história da nossa medicina revolucionária, este congresso será lembrado.

 Nalguma ocasião em que conversávamos com os companheiros que organizaram o congresso, que se dedicaram à tarefa de atender e aprimorar todos e cada um dos detalhes deste congresso, e a cujo esforço se deve numa parte considerável o brilho que teve, encabeçados pelos doutores Portilla e Valverde (APLAUSOS), numa ocasião — repito — anterior ao congresso, eles me mostraram esse escrito que aparece, precisamente, no fundo do cenário. Vocês todos com certeza o terão lido.

 Mas eu lembrava — uma coisa curiosa — quando lia a parte final, porque não sabia do que se tratava, estive a ponto de dizer: “Aqui há um erro, não são três anos, são quatro anos”. Mas me disseram: “Não, isto foi escrito relativamente ao primeiro congresso, não ao congresso de agora”. Porque algumas dessas palavras poderiam ser aplicadas a este momento. Foi algo assim como uma premonição de então, porque então não se podia falar de três anos de liberdade.

 Nossos próceres viveram aquela ilusão. Nossos próceres lutaram duramente pela nossa pátria. Mas nós sabemos as causas históricas, as forças superiores a eles que, numa parte considerável, frustraram seus sacrifícios.
 
 Não podia dizer-se naqueles primeiros dias da independência, ou da república independente, não podia, realmente, falar-se em independência. Porque no tempo em que foram escritas essas palavras existia na Constituição do nosso país uma emenda ignominiosa que dava direito a um governo estrangeiro a intervir nos seus assuntos internos. E quando na Constituição de um país há uma cláusula que autoriza a isso, esse país não se pode chamar um país soberano.

 E essa foi a república dos primeiros anos, a república daquele primeiro congresso médico. Nesse cenário realizaram seus sonhos grandes homens; naquele meio que limitava tudo desenvolveram suas vidas, depositaram seus “grãos de areia” para irem construindo, no campo da medicina, o caminho pelo qual hoje podemos andar.

 Não é a república de hoje a república de então. Aquela era uma quimera, um sonho, um desejo, uma ilusão. A de hoje, onde tem lugar este congresso médico, com sacrifícios, sim, com dificuldades, sim, com lutas, com riscos, com todos os inconvenientes que entranha a luta pela verdadeira independência, a república de hoje não é uma quimera, é uma realidade (APLAUSOS).

 Aqueles que na hora se defrontavam com circunstâncias muito mais poderosas que eles, não podiam falar de soberania plena. Hoje podemos falar em soberania plena ao preço que sabemos: lutando contra os mesmos fatores que naquele momento tornaram impossível aquela independência plena, e defendendo-nos contra esses mesmos fatores.

 Porque, no mundo daquele momento, uma força expansionista que surgia com ímpeto conseguiu esmagar os sonhos de independência de um país que havia lutado durante 30 anos por ela. E, contudo, no instante em que aquela força expansionista atingiu seu máximo desenvolvimento e se converteu na mais poderosa força expansionista do mundo, não conseguiu, contudo, esmagar a independência do nosso país (APLAUSOS). E isso indica que o mundo que vivemos não é o mundo de então, que o mundo de hoje tem mudado muito e continuará mudando.

 E este congresso teve lugar em meio dessas novas condições. É o primeiro congresso médico que se realiza no país plenamente independente. Mas, ainda, outras características, algumas delas assinaladas pelo companheiro ministro da Saúde Pública: o primeiro congresso que se realiza com um espírito novo.

 Isso tem sido fácil? Não!, vocês sabem que isto não tem sido fácil, vocês, que adquiriram seus conhecimentos na Universidade, que têm adquirido um considerável desenvolvimento intelectual para poderem exercer as funções profissionais que exercem, sabem que não foi fácil, e o compreendem. Não pôde ser fácil o desenvolvimento desse novo espírito, porque lhes coube viver um minuto singular da vida deste país onde nasceram, onde cresceram, onde têm vivido, onde têm trabalhado, onde têm estudado; coube-lhes viver um momento de profundas mudanças.
 Vamos deixar a um lado agora o antagonismo das ideias, vamos deixar a um lado a briga de argumentos e vamos cingir-nos aos fatos. E os fatos indicam que tem havido uma mudança, mas não uma mudança qualquer; que tem havido uma mudança profunda na estrutura e na vida do país. Quer dizer, isso se sintetiza com apenas uma afirmação: Houve uma Revolução!

 Vocês todos terão ouvido falar de revoluções, vocês todos terão lido acerca das revoluções, bem ou mal, em melhores ou em piores livros de texto, com maior ou menor clareza, com mais ou menos interpretação desinteresseira da história, vocês terão ouvido falar e terão lido acerca de revoluções. Há revoluções clássicas, sobre as que mais havíamos lido: a Revolução Francesa, por exemplo, que nos mostrava toda aquela imensa hecatombe que foi para as cortes monárquicas, para os condes, para os marqueses, para os príncipes, para os viscondes, para aquela classe social toda, rodeada de um sem-número de privilégios, a hecatombe que para eles significou a revolução dos plebeus, a revolução dos servos da gleba, a revolução dos comerciantes e dos industriais, que na hora eram pequenos comerciantes, pequenos mercadores, pequenos industriais que, junto com os servos, com os camponeses, fizeram ir por água abaixo aquele sistema social todo.

 Eu suponho que muitos de vocês eram apaixonados por aquelas leituras. E ainda um século depois se escrevia e se falava dos acontecimentos que tiveram lugar naquele momento.

 A história, como vocês sabem, nem sempre teve a mesma interpretação. Com a história acontece algo parecido do que com a medicina, que nem sempre teve as mesmas receitas e os mesmos métodos; e a medicina dos nossos bisavôs não é a medicina de hoje, porque a humanidade avança, a humanidade aprende. E assim a humanidade aprendeu a olhar desde diferentes ângulos seu passado todo, assim aprendeu a olhar a vida da humanidade própria desde as épocas mais primitivas, desde o próprio limiar do que se tem chamado história, com todas suas guerras, suas instituições, seus sistemas sociais. E assim, com muita naturalidade, nos acostumávamos a ler acerca daqueles tempos da Roma e da Grécia, daquela sociedade erguida sobre a escravatura.

 Claro que hoje, quando nós lemos a história daqueles países, parecem-nos absurdos, parecem-nos muito injustos aqueles sistemas. Sumiram tais sistemas e vieram outros um pouco mais humanos, porque o feudalismo foi um sistema mais humano relativamente ao escravismo. E ainda hoje ninguém aceitaria o feudalismo.

 Sumiu o feudalismo e vieram os sistemas capitalistas. Ah!, esses sim podem ser discutidos. Como num tempo, desde os mais primitivos, estavam os filósofos do sistema escravista, os apóstolos do escravismo, aos quais lhes parecia que o mundo não podia viver sem escravos com correntes, que o mundo não podia viver, que a sociedade não podia existir sem o escravo. Porque, aliás, diziam: Quem pinta?, quem canta?, quem faz filosofia, se o escravo não trabalha no campo? Quem vai governar e discutir na praça pública? Inclusive, temos escutado falar da democracia ateniense, daquela democracia em que se discutia na praça pública! Mas que discutiam 5 mil, que eram os únicos que tinham direito, enquanto dezenas e dezenas de milhares trabalhavam como escravos e muitas outras dezenas de milhares não tinham nenhum tipo de direito.

 Já ninguém discute isso, ninguém discute o feudalismo como coisa anacrônica e absurda, embora haja muitos que ainda discutem o capitalismo como bom e o apresentam como bom.

 Nós estamos certos de daqui a 50, 100, 200, 300 anos, não sabemos quantos, ninguém terá a ideia de defender o capitalismo, como tampouco ninguém se atreve hoje a defender o feudalismo ou a escravatura antiga.

 E na própria história de nosso povo lembrarão que os próceres de nossa independência tiveram que discutir com aqueles que defendiam o escravismo, também, na história de Cuba, como também tiveram que discutir com aqueles que defendiam a anexação aos Estados Unidos, porque todas essas correntes existiram na história de nosso país.

 E vocês perguntarão: Mas que tem a ver essa incursão toda pelo passado e pela história, com a medicina e com o congresso médico?  E, realmente, tem muito a ver.

 Porque tem relação? Precisamente porque a vocês lhes coube viver uma etapa de trânsito, uma etapa de mudanças tremendas também na história do país. E daqui a 100 anos, os bisnetos e os tetranetos de vocês possivelmente lembrem com orgulho que seus bisavôs ou seus trisavôs foram testemunhas dessas mudanças todas, porque então sobre estas questões se falará com um pouquinho de mais objetividade e de mais calma.
 E aos médicos cubanos lhes coube viver essa mudança, atravessar essa etapa realmente complexa, de mudanças realmente profundas. Temos acompanhado elas com todos seus problemas, com todos os fenômenos que as acompanham. Realmente vocês, como médicos e odontologistas, devem compreender bem estas coisas, porque a profissão de vocês é uma profissão científica, vocês gostam de pesquisar, gostam de conhecer. Em geral, em muitas ocasiões, realizam uma série de análises e de pesquisa prévias antes de poderem dizer o que tem o doente.

 E assim é preciso fazer também na sociedade, assim é preciso fazer também na Revolução, é preciso pesquisar para saber o que tem o paciente. O paciente, neste caso, é o fenômeno revolucionário em si próprio. Não vou dizer que o paciente seja a velha sociedade, porque a velha sociedade morreu há muito tempo (APLAUSOS) e o que mais se pode fazer, em todo o caso, é a autópsia (RISOS E APLAUSOS), para saber de que morreu. Morreu de morte violenta, entre outras coisas.

 Claro que a Revolução é um paciente e nós, em muitas ocasiões, temos que estar desempenhando o papel de médicos, de médicos sociais. Tal como os médicos podemos enganar-nos alguma que outra vez, não somos infalíveis, mas tal como os médicos e os odontologistas (RISOS) tentamos acertar e tentamos compreender.

 O fato de que hoje, no quinto ano da Revolução, se tenha podido realizar um evento científico desta qualidade, desta qualidade, do entusiasmo, do calor, do interesse que teve, demonstra que algumas coisas têm ido melhorando; demonstra que em nossos setores médicos e odontológicos — se pudéssemos chamá-los de alguma maneira aos dois juntos — se tem produzido eu diria que um salto de qualidade.

 Da qualidade dos médicos? Não. De que eles têm melhorado? Indiscutivelmente que melhoraram. Produziu-se um salto de qualidade no clima médico e odontológico, melhorou o clima. Indica que uma forte coluna da ciência, uma forte coluna da ciência se está desenvolvendo e está avançando junto do processo histórico (APLAUSOS).

 Para nós é um ensinamento, porque nós temos que tomar conta destes problemas públicos, sociais, revolucionários, políticos, todos os dias aprendemos também. E nós, por isso, também não podemos esquecer estes dias, porque estes dias serão sempre para nós os dias em que ficou totalmente demonstrado que a massa médica se incorporou à Revolução (APLAUSOS), a massa dos médicos e a massa dos odontologistas (RISOS).
 Ao afirmarmos isso, nós nos estamos cingindo simplesmente aos fatos. Nós não podemos pretender fazer propaganda entre vocês. Realmente, em geral, nós nunca fazemos propaganda; nós, em muitas coisas agimos como vocês e nos atemos aos fatos, às realidades.

 Isso para nós, como revolucionários, é um motivo de alento e é um motivo de profunda satisfação. Por que? Porque queremos ter mais seguidores? Não. Se a nós nos preocupasse isso fundamentalmente não teríamos sido revolucionários; aos revolucionários interessa, acima de tudo, o povo.

 Por aquilo que vocês significam para o povo, pelos serviços que vocês prestam ao povo, é pelo único que vocês nos interessam. E, realmente, os serviços que vocês prestam ao povo são, aos nossos olhos, de valor extraordinário. As funções sociais que vocês desempenham são diretamente de um alto teor humano.

 É certo que na sociedade faz falta o esforço de todos, mas algumas tarefas são mais diretas, outras são mais indiretas. E vocês realizam uma tarefa altamente humana, de maneira direta.

 Por essa preocupação que os revolucionários sentimos para o povo, o interesse que sentimos pelos serviços de saúde pública para o povo, e vocês que travam uma luta constante contra a morte, vocês que travam uma luta constante contra a dor, conhecem melhor que ninguém, compreendem melhor que ninguém.

 Então, acontece que alguns técnicos, não médicos, se têm queixado e pretenderam insinuar que nós temos algumas preferências com os trabalhadores da saúde pública.

 Realmente, pode ser que hajamos esquecido alguns outros técnicos, e até que, inclusive, sejam razoáveis suas queixas, e nós também devamos prestar atenção a eles; mas é verdade que nós nos temos preocupado muito pelos problemas que respeitam à saúde do povo.

 E numa dada altura, vocês sabem, nós temos criticado duramente, temos falado em termos muito severos dos médicos que abandonaram o país. É que realmente nos doía, porque se bem, do ponto de vista dos interesses gerais do país, é doloroso que nos levem um mestre, um professor, qualquer tipo de técnico, é que indiscutivelmente em nenhuma outra coisa, em nenhuma outra atividade se percebe o aspecto desumano da questão como quando nos levam um médico; ou como quando nos levaram um médico com pacientes, ou com algum paciente operado num hospital. Se se escrevesse acerca dalguns desses casos, seria altamente indigno.

 Aqueles que, precisamente, tentaram promover essa política, são os que nos acusam a nós, os revolucionários, de não preocupar-nos da dor humana; são os que pretendem apresentar seu sistema como humano. Porém, aqueles que têm sofrido por causa dessa política; aqueles que com mais sincera indignação têm condenado essa política, temos sido nós; aqueles que com maior veemência se têm preocupado, não de que haja cada vez menos médicos, mas que haja cada vez mais médicos, temos sido nós, aqueles que se preocuparam de que lá, no profundo das montanhas, uma mãe angustiada pudesse receber os benefícios de um serviço médico que salvasse a vida de um filho, temos sido nós.

 Jamais eles se preocuparam pela sorte de nosso povo. Em nome do quê podem falar hoje, nem de quais princípios, os exploradores, nem de quais princípios os inimigos da nossa pátria? Como se nós todos não conhecêssemos a história do nosso país, as realidades passadas do nosso país. Somente porque algumas pessoas têm poderosos reflexos condicionados na mente, pode ter efeito essa propaganda, ou naqueles que nunca conseguiram adquirir o hábito de sentir o desejo do bem para os demais, do amor para os demais, da solidariedade para os demais, pode fazer algum efeito essa propaganda.

 Porque nos nossos campos não só morriam de fome, de desnutrição, porque nos nossos campos não só eram vítimas das deficiências alimentares, mas que ainda, morriam sem o menor atendimento médico porque não havia um único médico em dezenas e dezenas de quilômetros ao redor. E quando não há um único médico em dezenas e dezenas de quilômetros ao redor, que acontece?, que acontece o mais das vezes?, que a morte arrebata vidas aos montes.

 Nós tínhamos muitos médicos, sim, um elevado número de médicos, mas desproporcionalmente situados. E assim, enquanto na capital da república estava a imensa maioria dos médicos, muitas regiões careciam de um médico.

 Isso, naturalmente trazia uma sequela de problemas, inclusive para os médicos quando se graduavam. Emigrações de médicos por não terem trabalho; hoje pode emigrar um médico porque não queira trabalhar, mas não emigra nenhum médico porque lhe falte trabalho no nosso país. E essas eram as realidades da nossa pátria.

 Como pensa um homem consciente? Pensa que estas coisas são certas, pensa que a necessidade de retificar isso é justa. Não se trata de que todos e cada um dos médicos e dos trabalhadores, em geral, da saúde, tenham que pensar exatamente como revolucionários, não!, que tenham que adotar determinadas ideias, não!, não se trata do revolucionário consciente, ou da necessidade de que seja um revolucionário teórico. É que um homem humano, um homem decente, até no conceito burguês da palavra, não é um criminoso, não abandona um doente, não abandona seu posto na luta contra a doença e a morte.

 E por isso, alguns médicos, que embora pensem diferentes de nós, tenham uma concepção diferente da sociedade do que nós, e da história diferente da de nós, apesar disso não abandonaram seus postos. Esses médicos têm todo nosso respeito. (APLAUSOS).

 Nós tivemos uma opinião muito diferente daqueles que abandonaram seus postos. Claro que, sobre todas as questões, nunca se deve esquecer que há uma série de circunstâncias que podem tornar mais ou menos atenuantes a atitude dos indivíduos, não devemos esquecer que em certas circunstâncias havia um clima muito menos propício, não devemos esquecer isso. Uma série de fatores influi, uma série de circunstâncias influi nas determinações dos indivíduos.

 Isso é verdade, mas sempre é preciso remetermo-nos ao essencial, quer dizer, o sentido do dever que um trabalhador da saúde deve ter, o sentido da responsabilidade, o sentido da sua função, o sentido da sua missão.

 Quando nós nos reunimos há 16 meses, as circunstâncias eram diferentes. É indiscutível que desse momento até agora temos avançado um bom trecho, é indiscutível que desse momento até agora o clima para o trabalhador da saúde pública nossa tem mudado muito, tem melhorado muito.
 Naturalmente que não é um fenômeno absolutamente espontâneo; também faz parte de esforços que se fizeram, e que ensina que todo esforço bem feito tem resultados dentro da Revolução.

 É preciso lembrar aos revolucionários que não basta ter razão; é preciso lembrar aos revolucionários que não basta saber que é justa a causa que se defende, mas também é preciso saber defender bem essa causa, saber defender bem essa razão, saber empregar métodos inteligentes para isso.

 O fato da incorporação dos trabalhadores da saúde — vamos chamá-los assim, alguma que outra vez, para não repetir aquilo de médicos e odontologistas — nos demonstra uma série de coisas. Em primeiro lugar, a influência que a sua própria função social, sua própria profissão, seu próprio trabalho, exerce sobre vocês; quer dizer, a índole humana do trabalho que vocês realizam. Em segundo lugar, o resultado do grande esforço que a Revolução fez no campo da saúde pública. E em terceiro lugar, a indiscutível justiça do esforço que se faz; porque todo o esforço da Revolução, quaisquer que forem suas fraquezas de organização, seus erros de método, suas falta de tacto, porque houve falta de tacto vinte vezes...

 Lembro, por exemplo, quando se fizeram aquelas depurações dentro dos professores universitários, em que, efetivamente, havia professores que não eram dignos de ser professores da universidade; mas também lembramos que havia alguns jovenzinhos inexperientes, como elefantes em meio de uma louçaria, envolvidos em tudo aquilo, alguns dos quais há tempo que partiram. E acabaram ferindo, ofendendo, maltratando, não sei se poucos ou muitos, mas sei mesmo que pelo menos a alguns, porque os conheço.

 É claro que uma revolução não se pode livrar dessas coisas. Não sei se nós também seremos culpados pelas coisas das quais não podemos livrar-nos de maneira nenhuma, é como se nós acusássemos um médico das dores do parto... (RISOS). São coisas inevitáveis do parto revolucionário. Mas, dessas coisas têm havido, frente a isso também deve haver uma luta consequente para evitarmos todos esses erros de método, de falta de tacto, de qualquer tipo.

 Afinal, o que fazem é prejudicar a Revolução, coitada da Revolução que sempre é vítima dos erros dos revolucionários, e nalguns casos daqueles que fingem ser revolucionários, e nalguns dos casos daqueles que nunca foram. Afinal de contas, nós temos que defender a Revolução de tudo, até dos nossos próprios erros.

 Naturalmente que aquilo não criava um clima. Mas por que esses erros? Porque também muitas pessoas jovenzinhas não sabiam o que era uma revolução, e pensavam que as coisas se faziam assim por vontade própria ou por geração espontânea, ou porque estava escrito em um livro, ou em virtude de uma lei histórica. Mas as leis históricas não funcionam sem o homem, as leis históricas têm lugar com o homem, estreitamente unidas à ação do homem.

 Uma série de erros desse tipo, doutros tipos, de vinte tipos, por causa naturalmente das inexperiências e de toda uma série de coisas, das pessoas que não sabem — e, sobretudo, das pessoas que não têm experiência, porque é preciso termos em conta que muitas pessoas com as melhores intenções do mundo fazem coisas mal feitas — não contribuíam a criar um clima.

 É claro que essa não era a única razão nem muito menos. Possivelmente sejam, inclusive, razões secundárias. Havia questões mais fundamentais: a luta de classes que se travou, a luta de interesses, a luta de ideias, a luta de mentalidades, toda uma série de coisas. Isso, por descontado.

 Essas medidas inevitáveis que uma revolução aplica sempre e que, inevitavelmente, provocam choques de interesses? Não me refiro a isso; essas são inevitáveis das revoluções. Mas unido a isso está o outro trabalho todo de organização, de tratamento correto das questões. De maneira que, numa dada altura, havia um clima contrário aos médicos — eu não sei se contra os odontologistas também, mas havia um clima desfavorável aos médicos — clima desfavorável aos médicos, pela generalização de atitudes. “Que um médico tal tinha feito tal coisa”, “que um tal do médico tinha ido embora”, “que um outro médico estava conspirando”, toda uma série de coisas.

 E por uma série de circunstâncias, e porque efetivamente o tipo de profissão era indiscutivelmente uma profissão bem remunerada — em certos casos — é verdade. E também um pouco devido à mentalidade em que se tinham formado nossos médicos — nós vamos ser sinceros — um pouco devido à mentalidade em que se tinham formado nossos médicos, a sociedade que formou nossos médicos. Era lógico que tivessem muitas influências dessa sociedade e desse meio.

 Essas causas todas influíram em que, numa dada altura, fosse criado um clima que, poderia dizer-se, era um clima antimédico; e os médicos se queixavam dessa certa hostilidade, dessa certa desconsideração.

 Contra isso tudo se começou a lutar. Aquela assembleia de há 16 meses foi também o começo de um grande esforço por retificar toda uma série de erros, de métodos, de enganos, e por iniciar uma política correta de tratamento dos médicos. Foi o início de um esforço.

 Não podemos pensar, de maneira nenhuma, que o fundamental tenha sido o resultado desse esforço para mudar o clima, não. Realmente, nós pensamos com toda a sinceridade que o que determinou isso foi a qualidade de vocês, com um tratamento correto dos problemas, ou pelo menos com uma intenção correta, um esforço sincero de dar um tratamento adequado aos problemas.

 Pode-se conceber que um médico, um médico decente, um odontologista decente, tenha que colidir com a Revolução? Que um homem humano tenha que colidir com a Revolução, tenha que se opor ao esforço que faz um país a favor do país, a favor dos seus filhos, e que praticamente elimina todas as bases viciadas em que no seio dessa sociedade eram distribuídos os bens e os serviços, por um esforço para fazer chegar esses bens e esses serviços ao povo todo? Pode um homem justo, pode um homem humano se opor a esse esforço?

 Deixando de lado aquelas tolices todas, como foram aqueles boatos acerca da socialização da medicina, e toda uma série de coisas, que eu imagino que já ficaram o bastante abolidas; que aquilo era uma fábula que a gente não acabava de saber o que queriam dizer com isso; como com a história do pátrio poder e todas aquelas tolices do mesmo gênero. Qualquer um que veja o que é uma escola interna, de bolsistas, e tudo o que custam, os recursos de que precisam e o esforço que tem que fazer o país para organizar bem, oferecer bom serviço para educar esses jovens, bastaria para rir completamente daquele tipo de fábula que dizia que iam tirar os filhos às mães. Muitas coisas bem parecidas com essas, que são também lendas inevitáveis de todo processo como este. Essas mentiras são mentiras inclusive antigas, não são nem novas, porque os contrarrevolucionários aqui nem sequer inventaram uma coisa nova (RISOS). Nós podemos dizer que temos inventado algumas coisas; os contrarrevolucionários não conseguiram inventar nem uma mentira sequer nova.

 Mas algumas daquelas coisas que afugentavam as pessoas, e que quando nós explicamos ou tratamos essa questão, explicamos bem que como este era um processo de trânsito, que significaria ser pouco realista tentar impor métodos ou sistemas, que todos têm que ser o produto de um desenvolvimento, da formação de novos técnicos, da preparação de novos contingentes; que isso era uma etapa, que os médicos não se deviam preocupar por esses boatos, por essas mentiras.

  Algumas dessas coisas influíam nalgumas pessoas. Mas a pergunta fundamental é esta: Será que um homem honesto, um homem justo, pode opor-se ao que a Revolução faz? E, sobretudo, ao que a Revolução está fazendo no campo da saúde pública? Porque em todos os aspectos e em todas as ordens nós sabemos como era a questão, como eram os hospitais públicos. Eram, em muitos casos, lugares imundos, onde os doentes dormiam no chão. Todo mundo sabe, aliás, quanto tinha que estudar um médico, com quanta dificuldade tinha que estudar um médico no nosso país, quantas dificuldades para que depois que se graduasse conseguir emprego. Todo mundo sabe, aliás, como era aquela universidade, na qual, às vezes — segundo me contaram alguns médicos — um professor dava aulas a 800 alunos, a 1.000 alunos: uma aula para 1.000 alunos. É que não havia nenhuma facilidade para poder estudar.

 Todo mundo sabe que os bons médicos foram praticamente autodidatas, porque se aproximaram, porque conseguiram trabalhar nalgum hospital, receber as experiências dalgum médico competente. Essa história toda nós a sabemos, sabemos todos. E que quando é examinado aquele passado com o que hoje se está fazendo, não admite comparação de nenhuma índole; o esforço que se está fazendo para levar a medicina ao campo, aos recantos mais afastados do país, as cifras estatísticas. Quando se compara o fato de que, entre 1954 e 1959 havia 200 mil vacinas em cinco anos, e agora são três milhões de vacinas em um ano; a luta contra uma série de epidemias, as vidas que foram salvas. Quando se compara tudo isso, uma pessoa justa, uma pessoa honrada, não pode ser contra isso. Poderá dizer: aquele funcionário é chato, não gosto dele; o diretor de tal hospital é insuportável. Bom, se quer, talvez haja um diretor de hospital insuportável, em qualquer lado a gente se depara com pessoas insuportáveis, mas essas pessoas nascem assim (RISOS), vocês saberão melhor que nós por que há pessoas que nascem com um dado temperamento ou caráter.

 Eu já conheci pessoas muito boas, muito revolucionárias, mas que são dissociadores (RISOS). E com esse tipo de pessoas nos deparamos na vida; acaso quem não se depara com eles?

 Bem, tudo isso está bem. Mas, realmente, não existe comparação entre o caminho que acarreta o trabalho na saúde com o caminho do passado. Naturalmente, refiro-me exclusivamente à coisa direta, ao atendimento direto, à medicina terapêutica e à medicina preventiva, que é a que nós realmente devemos tentar desenvolver também em um grau máximo. As duas mas, sobretudo, seguir o princípio de evitar as doenças.

 Combatemos as causas mais profundas, porque realmente nenhuma medicina preventiva, nem curativa, pode nada contra a falta de proteínas, contra a falta de condições higiênicas de vida, contra a falta de alimentação. Quer dizer, a base fundamental têm que ser as condições de vida do povo, e ninguém pode duvidar de que quando sejam erradicados esses bairros insalubres todos, quando haja condições higiênicas elementares nas moradias... E, naturalmente, quem ignora como são as condições higiênicas no campo?, a água, a quantidade de micróbios, de bactérias que ingerem pela falta de medidas higiênicas, e, sobretudo, pela falta de meios materiais para poder fazê-lo.

 Naturalmente que nós os revolucionários não temos a culpa de que haja 300 mil cabanas. Qualquer dia destes, o imperialismo faz uma declaração dizendo que a Revolução trouxe em consequência que haja 300 mil cabanas miseráveis no país. O problema de nós é precisamente a luta por erradicar essas 300 mil cabanas. Não quer dizer que nós tenhamos erradicado as 300 mil cabanas; temos erradicado muitas cabanas, temos construído muitos povoados novos, mas como nós não somos mágicos, e como só do trabalho e da técnica é que podem sair os bem materiais do homem, só o trabalho do homem e a técnica erradicarão essa pobreza toda, os bairros insalubres, permitirão que todos os povoados tenham sistema de esgotos, de água encanada, permitirão que as famílias tenham condições higiênicas, só o trabalho. E isso não é questão de dois, nem de três, nem de quatro anos, será de quinze, de vinte, de vinte e cinco, de trinta, não sabemos, mas entre nós e os que vierem atrás de nós sim estamos certos de que vamos eliminar essas mazelas. Não temos nenhuma dúvida disso.

 Pois esse é o fundo fundamental, a Revolução está voltada contra isso, fundamentalmente: eliminar essas mazelas.

 E é que na questão direta de evitar as doenças e o atendimento dos doentes há um extraordinário esforço por parte da Revolução. E é lógico que esse esforço conquiste a boa vontade dos homens honestos, dos homens humanos. Esse esforço jamais conquistará a vontade dos egoístas, mas conquistará, tem que conquistar, tem que conquistar a vontade dos homens honestos, os homens e das mulheres honestas (APLAUSOS). Porque vocês devem saber que, entre outras coisas, há quase 50% das mulheres estudando nos primeiros anos da medicina; quer dizer, no primeiro ano e nos cursos que se estão preparando (APLAUSOS). Está sendo observado o fenômeno da incorporação da mulher ao estudo da medicina.

 Mas bem, na realidade, o problema do nosso país, de vocês e de nós, não é ocupar-nos do que tenhamos feito. É claro que nós podemos pôr aqui todas as estatísticas e estatísticas que são verdadeiras, como vocês conhecem; uma série de dados comparativos acerca do número de leitos antes, número de leitos agora; número de óbitos por causa da poliomielite por ano, número de óbitos desse tipo agora, que não há nenhum, que têm sido erradicados, e toda uma série de dados estatísticos: condições de vida nos hospitais, condições de alimentação, toda uma série de coisas. Nós podíamos exibir uma longa lista de dados. Mas, na realidade, isso não é o que interessa. O que interessa é o que temos que fazer por diante. Realmente, o que nós temos feito até agora não nos satisfaz absolutamente nada, porque nos parece que, futuramente, podemos fazer dez vezes, vinte vezes mais do que agora, se criamos as condições para fazê-lo.

 Por isso, o congresso tem esse grande valor; o congresso marca um momento importante na vida do nosso país, uma série de dados positivos, inquestionavelmente do ponto de vista do país, a presença, o brilho do congresso é muito apreciável.

 Porém, o mais importante de tudo, ou dentre as coisas mais importantes está o extraordinário interesse científico que está acordando entre vocês, o extraordinário interesse científico; o número elevadíssimo de trabalhos que se fizeram; além do espírito de confraternidade, a divulgação dos conhecimentos de uns médicos a outros, o que vocês tenham podido aprender e haverão de aprender como resultado deste congresso, do ponto de vista técnico, científico, o interesse, o espírito de superação que se despertou entre vocês. E isso é realmente promissório. Isso é promissório para nosso país, isso é um bom ponto, um magnífico ponto de partida, e é indiscutível que os resultados se hão de ver.

 O fato de que se tenha despertado esse espírito entre vocês tem muita importância. Nós o temos visto entre nossos companheiros de Revolução; nós o temos visto em nossos companheiros do Exército Rebelde. Entre os companheiros do Exército Rebelde, do primeiro ano e agora, há uma enorme diferença; a aprendizagem que conseguiram, o interesse que têm pelos estudos, é incrível. É que praticamente não há um só que não queira superar-se, que não queira estudar, que não queira desenvolver-se.

 E nós temos visto os resultados do ponto de vista da técnica militar. Muitos companheiros nossos que eram guerrilheiros e hoje são técnicos militares. E assim surgiu toda uma série de chefes, uma série de técnicos numa série de armas que não conheciam.

 Quando esse espírito se apodera de um setor, de uma massa, tem uns resultados fantásticos. Em vocês, esse espírito se percebe, e terá também fantásticos resultados. Nos estudantes universitários, nos do pré-universitário, nos do ensino secundário, esse espírito se percebe.

 O nível do estudo nos nossos centros de bolsistas universitários atingiu um nível que nunca tinha sido atingido em nosso país.

 Nós temos ido às 2 horas da madrugada, temos passado pela zona de residência dos estudantes do instituto de ciências básicas, que é o equivalente do primeiro ano de medicina, e temos achado todo mundo estudando a essa hora. De madrugada, as luzes do edifício do instituto de ciências básicas estão acesas.

 E nós temos notícias dos centros pré-universitários. Ontem, sábado à noite, no pré-universitário da antiga zona residencial de Tarará, em muitos alojamentos, os estudantes não foram ao cinema, estavam estudando, estavam estudando. E esse nível vai atingir alturas superiores.
 Está se desenvolvendo um espírito de estudo verdadeiramente extraordinário entre os jovens. E isso é muito promissório para nosso país. E esse espírito de estudo, esse espírito de superação entre vocês ficou patente no congresso precisamente. E não haverá nem um médico nem um odontologista que queira ficar atrás.

 Porque, em primeiro lugar, estão os novos cursos de estudo, a preparação que hoje recebe um estudante de medicina ou de odontologia, a intensidade dos programas, o tempo completo dedicado ao estudo. Estão sendo criadas as condições nos hospitais docentes, nos centros hospitalares, de tal tipo, que não haverá médico que não queira ficar atrás.

 Como diz, por exemplo, o velho rebelde: “Quero estudar porque não quero ficar atrás”. Não se trata de uma coisa egoísta, não? É que se trata também de um sentimento de honra, de estima própria, no ser humano, quando percebe que todos avançam, quando percebe que todos progridem. E, naturalmente, no estudo está a base fundamental.

 Por que nós temos tamanha confiança no futuro, tamanha fé no porvir, acima das nossas dificuldades presentes? Porque nós estamos muito em contato com essa massa toda de jovens. E nós sabemos que estamos criando, de verdade, as condições para um grande desenvolvimento econômico no futuro, um grande desenvolvimento técnico, um grande desenvolvimento científico. Nós estamos certos, porque no estudo está a base. E vocês sabem, graças a sua experiência pessoal, que sem o estudo não seriam o que são, sem o estudo vocês não desempenhariam as funções que vocês desempenham.

 É certo que neste país, durante um bom número de anos, teremos que privar-nos de algumas coisas, e que neste país, durante um bom número de anos, não entrará um Cadillac.

 É certo tudo isso: muito poucos carros; é certo tudo isso. Porque nós sabemos que os médicos precisam do transporte... E os odontologistas também. (RISOS).

 Durante um bom número de anos nós nos privaremos de muitas coisas. Mas estamos criando condições extraordinárias para o futuro, pelo único caminho, pelo único caminho. Porque só o caminho do trabalho, da técnica e da ciência é o que faz progredir a humanidade; isso ou a magia, isso ou a magia. Quem acreditar na magia poderá achar aí um substituto do trabalho, da técnica e da ciência, para produzir bens materiais, quem acreditar que isso pode sair de uma cartola. Está no trabalho, na ciência e na técnica, acompanhado, naturalmente, da organização adequada.

 E os fatos demonstram que cada vez que se organiza uma coisa bem sai bem. E este congresso é uma prova, porque foi organizado com todos seus detalhes, e nós sabemos que se cumpriu tudo, exatamente como tinha sido planejado e como tinha sido traçado. O que se organiza bem, sai bem.
 E este congresso vai marcar essa etapa do auge do espírito de superação e de estudo entre vocês. Tem muitas coisas importantes, mas — segundo nosso entendimento — essa é uma das mais importantes. Porque tudo o demais virá depois.

 Nós não podemos, de maneira nenhuma, conformarmo-nos com o que se tem feito, porque o que já se fez — repito — é muito pouco, e temos muitas lacunas que ir preenchendo.

 Porém, se nós, com os que já são profissionais, técnicos, profissionais da saúde pública, podemos contar com eles com um grande espírito de estudo, uma concorrência, de maneira que possam desenvolver até o máximo de suas possibilidades a capacidade de cada um de vocês; se, ao mesmo tempo, temos um magnífico programa de preparação dos estudantes atuais, com medidas tais como a de criar condições para que se possam dedicar, o tempo todo ao estudo, unido a promoções de jovens para que se dediquem aos estudos. 

 E, a respeito das promoções, temos um ponto fraco. Temos promovido, e temos feito uma campanha a favor do estudo da medicina. E, contudo, não temos feito uma campanha a favor do estudo da odontologia (APLAUSOS).

 Eu brinquei com esta questão esta noite, porque sei que há uma espécie de sensibilidade por parte dos odontologistas, justificada, porque se cometeram alguns esquecimentos, e pode ser que em certo sentido, houve uma subestimação da importância do trabalho que desenvolvem.

 Nós — às vezes gracejando —temos dito que caso não tomarmos conta dessas coisas, daqui a alguns anos vamos ter muita carne, muitos suprimentos de todo o tipo, mas não vamos ter dentes (RISOS). Temos dito isso como para dar a entender a importância que tem que tomemos conta, não só da promoção de estudantes de medicina, mas também de odontologia e de farmácia, e de todas as coisas que sejam precisas, para que haja uma coisa proporcional. Resultado disso: deparamo-nos com muito poucos alunos que queiram estudar odontologia.

 É preciso fazer uma campanha, e é preciso fazer uma promoção, agora, entre os que tenham estudado no curso de aperfeiçoamento para ingressarem no ano que vem no instituto de ciências básicas; depois, os que estejam estudando no pré-universitário de Tarará. E nos centros pré-universitários é preciso fazer uma promoção, uma divulgação da importância que tem essa função, esse trabalho, esse tipo de técnico. É preciso fazê-la, porque nós nesse ramo temos atingido um nível técnico muito alto e não podemos permitir que esmoreça, nem deixar de elevá-lo incessantemente. E dar apoio também — o mesmo apoio que se tem dado na escola de medicina — à escola de odontologia. Nesse sentido, eu entendo que os companheiros odontologistas tenham razão, e devemos prestar atenção a essa fraqueza.

 Mas, afinal, se todas essas condições se vão reunindo, todo o esforço educacional que tem que vir de muito atrás. Porque, entre outras coisas, nós temos podido descobrir, com a Revolução, o estado em que se encontrava a escola pública, o estado em que se encontrava o ensino secundário e pré-universitário, o estado em que se encontrava o ensino universitário, um verdadeiro desastre.

 Aqui poderia voltar a repetir tudo o que eu disse acerca do homem decente. Que se dedique a examinar como estava nossa escola pública, os níveis do nosso ensino secundário e do nosso ensino superior, e que era uma vergonha. E nós temos alguns exemplos.

 Assim, por exemplo, temos convocado para estudar magistério. Nós temos tomado também extraordinário interesse na formação de mestres, precisamente, por causa de uma convicção de que tudo isto tem que começar a partir da base.

 E a base está na escola primária, é preciso começar pela escola primária, na base de formação do homem futuro de nosso país, do cubano futuro, que tem que ser melhor que o cubano de agora. E nós temos visto que, por exemplo, ao chamar para fazer o ingresso em uma escola vocacional de magistério a 5 mil jovens que, presumivelmente, tinham a sexta série, que tinham certidão de sexta série, e examiná-los, temos nos deparado com 46% deles com a quarta série e mais abaixo. Nossa escola pública era um desastre, isto, sem contarmos no campo, em que havia um analfabetismo espantoso.

 Nós, neste instante, por exemplo, temos 10 mil camponesas das montanhas de Oriente estudando aqui, e temos podido ver suas qualificações, seus exames: quantas delas tem a 1ª série, quantas na 2ª, quantas na 3ª. Então se percebe: tantas milhares na 1ª, tantas milhares na 2ª, tantas milhares na 3ª, tantas milhares na 4ª, ainda menos na 5ª, e menos na 6ª; porque se percebe, a partir do momento em que enviamos professores às montanhas. Em três anos já há milhares na 3ª série, muito poucas na 4ª série, pouquíssimas, pouquíssimas!, na 5ª, ainda menos na 6ª — podem ser contadas com os dedos da mão. À parte da população infantil, que não tinha escola, e que no nosso país era de mais de meio milhão, os que tinham uma escola, tinham uma escola péssima, péssima. Bem, sabe-se que em muitos lugares não havia nem local, nem material escolar, nem livros. Sabemos essas coisas todas.

 Ora, como se vai arrumar um país? Uma das perguntas que nós fazemos a qualquer contrarrevolucionário era: E como é que se ia arrumar este país se continuava como estava? Porque aqui não é só que houvessem 400 mil ou 500 mil pessoas sem emprego; havia um milhão de analfabetos, mais de meio milhão de crianças sem escolas. Para que vamos falar!, para que vamos falar!, era toda uma vergonha o que havia no nosso país.
 Mas o fato real é que agora, quando transferimos os da 6ª série para o nível secundário, vêm com um nível péssimo do ensino primário; quando os transferimos do secundário para o pré-universitário, vêm com um nível baixo do secundário; quando vão do pré-universitário para a universidade vão com um nível paupérrimo. E então, quando chegam a estudar os programas universitários, ao aplicarmos a reforma nos temos deparado com algumas coisas tais como de cento e tal que ficam desalentados, 90% deles nalgumas faculdades universitárias, e que, naturalmente, a fórmula não é eliminá-los todos; a fórmula seria que atingissem o mesmo nível entre todos eles, prolongar o tempo dos estudos, mas é preciso graduá-los, porque o que recebemos como herança foi isso.

 E naturalmente, nosso país tem que se preocupar muito seriamente pela formação dos professores e pelo funcionamento de suas escolinhas públicas.

 Realmente, as primeiras promoções de mestres formados com métodos inteiramente novos começarão a sair dentro de dois anos. Mas já praticamente estão ingressando entre 5 mil e 6 mil jovens para estudar magistério, todos os anos. No período de dez anos poderão ser contados às dezenas de milhares os novos professores que irão surgindo, com métodos, sistemas absolutamente novos e com uma mentalidade também nova.

 Era uma verdadeira tragédia achar um professor para dar aulas nas montanhas. Foi necessário lançar mão daquele procedimento de convocar estudantes, os professores voluntários e com professores desse tipo, fundamentalmente, se têm integrado nas brigadas que estão ensinando nas montanhas.

 Nós recebemos essa herança toda de um baixo nível no ensino em geral. Tudo isso está sendo retificado, tudo isso, está sendo elevado já ao nível dos estudos secundários e pré-universitários, ao nível do ensino primário, e continuaremos lutando incansavelmente nesse sentido.
 Ora, um dia nosso povo receberá os frutos de tudo isso. Agora temos os frutos do passado, mas um dia teremos os frutos do que estamos fazendo, do que estamos fazendo pelo país, do que estamos fazendo pelo povo, do que estamos fazendo pelo homem.

 Os inimigos da nossa Revolução dizem que a Revolução é cruel, que o socialismo é cruel, porque aniquila o indivíduo, porque asfixia o Estado. E essa é uma das grandes mentiras dos reacionários, porque eles sim empregavam o Estado para aniquilar o indivíduo: o indivíduo que morria sem atendimento médico, e o indivíduo que tinha que dormir no chão de um hospital, e o indivíduo que se deitava sem comer e que em meio da sociedade era um ser solitário, o indivíduo que ficou sem aprender a ler nem a escrever; quem o asfixiou?, quem o abandonou à sua sorte? O Estado burguês, o Estado capitalista. O Estado proletário não faz isso, não abandona os doentes à sua sorte: quer levar o médico ao doente, quer levar o ensino, sem exceção, a todos os cidadãos.

 Os capitalistas falam do seu regime de liberdades, do qual dizem que dá oportunidades a todos. Que oportunidade pode ter um camponês que nunca viu uma escola, que nunca viu por ali um professor? Que oportunidade de ser um cientista, de ser um técnico, de ser um artista, de ser o que seja, que oportunidade tem? Que oportunidade tinha o milhão de analfabetos?

 Aquele Estado não lhe dava nenhuma oportunidade. Contudo, este Estado dá oportunidades até às crianças mais humilde, mais pobres, que moram no recanto mais afastado do país. Para elas prepara professores, para elas envia brigadas de professores de vanguarda, para elas tem 100 mil bolsas, cem mil bolsas! E para terem uma dessas bolsas não é preciso ser sargento, nem político, nem bajulador de um político qualquer (APLAUSOS), nem vender o voto, não tem que dever favores a ninguém, basta que precisar, basta que queira estudar, e tem a oportunidade, tem tudo: roupas, alimentos, livros, condições de vida higiênicas, professores; são atendidos com predileção por parte do Estado. Basta que eles precisem simplesmente.

 E já uma criança abandonada pelos pais não precisa da caridade, já não é preciso levá-la para uma casa da Beneficência (APLAUSOS), porque estão as casas-berço, e depois todas as escolas onde são educadas, não como um indesejado, não como um amaldiçoado pela sociedade, mas sim como um ser humano, junto de todos os demais, em condições mil vezes mais humanas que no passado.

 Porque o Estado proletário toma conta do homem e trabalha para o homem! (APLAUSOS). O Estado proletário é a garantia mais sólida do ser humano como indivíduo! E isso é o que nos ensinam os fatos, não as palavras: os fatos!, e os fatos diários.

 É claro que para fazer tudo isto nós temos que lutar duro, por fazer tudo isto querem destruir nossa Revolução, nosso país.

 Na tarde de hoje nós passamos por uma dessas avenidas, onde há milhares e milhares de jovens estudando, vemo-los, entusiásticos, sadios, mês após mês vêem-se mais fortes; neles se percebe toda a força dessa juventude, e eu me perguntava. O que pretendem os imperialistas? Nós pensávamos nessas 10 mil camponesas atendidas por 300 alunas do Instituto Pedagógico “Makarenko”, moças de 15 e 16 anos, as quais dirigem uma casa onde há 40, 50 camponesas, nós pensávamos em tudo isso, lembrávamos as notícias que lemos onde, incessantemente, está pairando sobre nós a espada do inimigo, e nos perguntávamos: O que pensam fazer disto?, enquanto falam da Aliança para o Progresso e de todas suas porcarias, que não conseguiram eliminar o analfabetismo em nenhum país da América Latina (APLAUSOS), que não conseguiram eliminar o analfabetismo em um único país da América Latina, nem a poliomielite em nenhum país da América Latina; que não puderam fazer, nem poderão jamais fazer nada, porque para liquidar o analfabetismo foi necessário mobilizar 100 mil jovens. E que procurem: qual oligarquia reacionária?, qual governo do tipo de Somoza, de Stroessner, de Guido, de Betancourt — assassino de estudantes — pode mobilizar 100 mil estudantes para levá-los a ensinar (APLAUSOS).

 Betancourt, esse imundo traidor que pretendem apresentar como protótipo de governante, só poderia reunir 100 mil estudantes se lhes dêsse permissão para organizarem uma manifestação contra ele, um protesto contra ele (aplausos). Só uma Revolução cuja grandeza, cujo heroísmo, cuja envergadura histórica compreendem os jovens, pode travar essa batalha.

 E nós nos perguntávamos, o que pretendem os imperialistas criminosos, esmagar tudo isto, destruir tudo isto, liquidar tudo isso, para voltar a estabelecer aqui o país do vício, do jogo, da politiquice, da prostituição, para que outra vez, em vez de 100 mil camponesas aprendendo diferentes conhecimentos, frequentando cursos de aperfeiçoamento na nossa capital, tenham que vir milhares de camponesas e de filhas de camponesas a exercerem a prostituição (APLAUSOS).

 O que pretendem os imperialistas e que direito têm para isso? Que direito de tentar destruir a obra de um povo, cujo único delito é o delito de querer progredir, de querer avançar, de querer a felicidade para seus filhos?

 A vocês, companheiros, sinto o dever de expressar-lhes estas coisas, porque não vim aqui proferir um discurso político, não vim aqui fazer propaganda; vim, em todo o caso, falar a vocês o que sinto, com toda a honestidade.

 E dizer estas verdades aqui, neste congresso científico, aonde vieram homens de muitos lugares diferentes, porque aqui não pusemos empecilhos a ninguém, porque aqui neste país que os imperialistas pretendem apresentar como país asfixiado, como país oprimido, é o país que tem suas fronteiras abertas para todos, suas fronteiras abertas para qualquer médico de qualquer país do mundo.

 E o que constitui uma verdadeira vergonha e uma confissão da sua impotência e da indigência mental das suas ideias, é que o governo dos Estados Unidos não deixou vir nenhum médico americano (APLAUSOS).

 E aqui teríamos recebido com todo o respeito todos aqueles médicos norte-americanos que tivessem desejado participar com espírito científico. E se eles organizam um congresso e convidam médicos cubanos, os médicos cubanos, com a testa muito no alto, também participariam desse congresso (APLAUSOS).

 É que nós temos que lembrar destas coisas, nós temos que levar na nossa alma estas coisas para saber sermos filhos dignos deste país, nesta hora da história. Nós temos que ter em nosso trabalho diário, na casa, no hospital, no campo como estudantes, já como técnico graduado, levar sempre estas coisas, esta, nossa batalha, nossa batalha heróica, nossa batalha gloriosa, nossa batalha de homens justos, nossa batalha de homens dignos, nossa batalha de homens que honram a história e a dignidade de seu país, e enfrentam os obstáculos e enfrentam os inimigos, por poderosos que forem.

 Companheiros e companheiras, vocês trabalharam durante uma semana toda arduamente no campo da ciência. Ao concluir este congresso queremos dizer-lhes, com grande satisfação, que nele se tornou patente, entre outras coisas, algo que é preciso destacar: o apreço do povo, a estimação do povo aos seus trabalhadores da saúde.

 E isso se tornou patente no interesse de todos os setores em atendê-los, dos trabalhadores gastronômicos (APLAUSOS); dos operários do transporte (APLAUSOS); dos artistas (APLAUSOS); dos jornalistas (APLAUSOS), e de todos quantos tiveram a oportunidade de intervir, de servi-los, de ajudar ao brilho e ao sucesso deste congresso e que demonstra a forma em que o povo sabe apreciar; como o povo que recebe inúmeros benefícios de vocês, sabe apreciar, sabe agradecer e sabe estimar, em seu justo valor, o trabalho de vocês.

 E quaisquer que sejam as satisfações que se possam ter, o padrão de vida, estou certo de que nenhuma outra coisa é mais importante e alentadora para vocês que esse reconhecimento e essa estimação do nosso povo.

 Este congresso não deve ficar aqui, não deve acabar aqui. É preciso continuar trabalhando, é preciso divulgar os trabalhos, é preciso preencher uma série de lacunas, é preciso melhorar as publicações, deve-se resolver definitivamente o problema dos livros, tanto os que seja preciso imprimir como os que haja que importar (APLAUSOS), assim como as revistas; é preciso superar os obstáculos burocráticos que impedem que estas questões sejam atendidas (APLAUSOS).

 Que o que significa em termos de recursos é em realidade modesto e o país bem está disposto a fazer o esforço, a contribuição, de maneira tal que pode contribuir à superação dos médicos e dos odontologistas, de todos nossos trabalhadores da saúde, de maneira tal que vocês não estejam isolados do mundo, mas sim em contato com o mundo todo, em contato com a ciência, e que conheçam o último detalhe, o último avanço, porque a ciência é universal e temos que aprender do mundo, da mesma maneira que devemos estar sempre dispostos a ensinar a contribuição que nós possamos obter para ela.

 E essas são as questões que nós temos discutido com os companheiros que têm a ver com essas coisas. Isto é, não deve ficar aqui, é preciso continuar trabalhando e que não fique nas palavras, e que, por favor, que vocês os médicos e odontologistas, não fiquem desiludidos conosco.

 Eu sei que já se fizeram alguns esforços, que estão chegando algumas revistas, que estão chegando alguns livros, mas isso tem que ser uma coisa certa, para satisfazer plenamente as necessidades que temos dos livros impressos, dos livros que são importados, das revistas que são importadas e das revistas que temos que imprimir, para dar maior circulação possível às experiências, aos conhecimentos, ao maior estímulo possível.

 Apoiar com todos os sentimentos esse sentimento de vocês, esse espírito de vocês, esse desejo de superar-se de vocês, e que estou certo de que não há de ser somente de vocês, mas também há de ser dos demais técnicos, porque nosso país está precisando disso em uma série de ramos, precisa disso na agronomia, precisa disso em enormes volumes na indústria, e nós devemos apoiar o desejo de superação de nossos técnicos, prestar-lhes atenção, estimulá-los, demonstrar-lhes o apreço da nação toda a seu esforço e a seus serviços.

 Creio que este congresso há de contribuir extraordinariamente a isso, e que nosso país se sentirá orgulhoso de seus técnicos em geral, que nosso país se sentirá orgulhoso de vocês, e que vocês não quererão ficar atrás, e que vocês quererão que a saúde pública, mais e mais, cada vez mais no nosso país progrida, seja exemplo, seja modelo, e seja motivo de profunda satisfação para vocês todos, companheiros.

 Pátria ou Morte!

 Venceremos!

(OVAÇÃO)

(Versões Estenográficas – Conselho de Estado)